4.5.08

Cinderela do soul: os Dap-Kings encaixam é na Sharon Jones

Sabe o que a injustiça e a cegueira do showbizz faz mais além do que nos privar da boa música? Ironia. Como por exemplo, o fato de uma aspirante a presidiária libertar a antiga carcereira do anonimato. Metáfora? Não, nem piada. É fato, porque a candidata a um espaçozinho na prisão é Amy Winehouse e a antiga carcereira é a Sharon Jones. Amy, por hora, dispensa comentários. A inglesa, como todos sabem, disputa com Britney Spears, Paris Hilton e Lily Allen o posto de maior produtora de escândalos da primeira década.

Enquanto vocês fazem suas apostas passemos então direto ao soul. Afinal, Amy já fez o suficiente para rechear a história da música com mais um disco que entrará para a lista dos 100 mais do século XXI. Back to Black (B2B) é tão bom que eu não preciso nem estar viva para ter certeza de sua consagração póstuma (porque este tipo de eternidade requer mortes e ressurreições). Mas o que sempre me fez admirar mais ainda Amy, além de seu penteado de ninho de rato, foi sua referência e re-atualização dos clássicos. ESPERA, estou falando do passado. Hoje, a inglesinha vai ter que dividir minha admiração com a Sharon Jones.

Explico: sempre me questionei sobre o que estava por trás de B2B e hoje descobri os Dap-Kings. Quem são? Ora, os oito rapazes que respondem à terceira pessoa do plural que sempre conjuga Sharon. Esta cantora fantástica tem uma série de recusas e frustrações em sua carreira, não pela voz que é MARAVILHOSA. Mas pela aparência e idade. "Ninguém me aceitava na indústria da música. Diziam que eu era muito negra, que eu era muito gorda... Diziam que eu era muito nova, que não era bonita o suficiente", relembra. "Aos 25 anos, me disseram que eu estava velha... Então fui fazer outras coisas."(*) Daí sua investida no ramo da “segurança pública”.

Contudo, para nosso desfrute e alegria, o ex-marido de Sharon levou-a ao Dap-Kings quinze anos depois, mais exatamente em 1996, e hoje ela está aqui no meu MP4 me enchendo de inspiração. Pois depois de Amy escutar sua música e tomar sua banda emprestada, chegou às seis milhões de cópias vendidas. E destes milhões de compradores e trilhões de baixadores de torrents boa parte deve ter tido a mesma curiosidade que eu e posto reparo nos Dap-Kings. Curiosidade satisfeita, eis que surge a feliz surpresa de nos encontrar com Sharon Jones.

Parei no “Naturally” (2005) e já estou apaixonada! Mas o bam bam bam deles é "100 Days, 100 Nights" (2007) , que ainda não escutei. E se depois disso tudo você não se convenceu a baixar. Deixo para vocês a própria Sharon mandando seu recado: "Fazemos soul music como era feita nos anos 60 e 70", diz Jones. "Hoje todo mundo usa equipamentos digitais, eletrônicos. Nós só usamos instrumentos analógicos. No estúdio, ainda gravamos em fita. Os instrumentos são gravados todos juntos, ao vivo. É a diferença. Esse tipo de música", ela continua, "apesar de antiga, ainda é importante. Não usamos sintetizadores, softwares, nada disso. E os mais jovens não entendem como conseguimos soar dessa maneira. Vamos continuar fazendo assim. Era como Otis Redding, Etta James, James Brown e todos os outros grandes faziam. Nós somos da velha-guarda."



Depois disso, nada de colocar Miss Jones no pedestal da coitadinha do soul, né? Coitadinho de quem não conhece, oras bolas! Experimente começar o dia com Fish in the Dish.

(*)Citações retiradas da Folha Online: Ilustrada.

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