Não faz muito tempo descobri pelo blog do Milton Ribeiro que existem 3 graus de ouvintes de música. Reproduzo-os resumidamente aqui lhes poupando do juízo de valor do referido autor:
1. Os que ouvem com as pernas: são os mais primários. A música (ou o ritmo) que lhes entra pelos ouvidos dirige-se a suas pernas ou à deleção sumária. São as pessoas que ouvem música apenas para dançar ou para servir de fundo sonoro a outras atividades. Elas desejam apenas o ritmo ou o preenchimento de silêncios. A maioria das pessoas dos outros graus também tem o hábito de dançar, mas muitas delas, se a música for muito ruim, turbinam-se antes com um pouco de álcool.
2. Os que ouvem com o coração: este caso é uma evolução do anterior. Aqui a música já é ouvida, mas desvia-se de seus cérebros e toma um caminho estranho, mais curto que os das pernas: o do coração. Trata-se daqueles seres que ficam relacionando músicas com períodos de suas vidas, são os que ficam amorosos e se aninham a seus amores quando é executada “a nossa música”… Para estes seres, a música existe para lhes sugerir fatos e coisas que estão no mundo ou em sua memória. Normalmente, são pessoas nostálgicas e que ficam facilmente embevecidas.
3. Os que ouvem com os ouvidos: neste caso, a música que nos entra pelos ouvidos vai para majoritariamente para dois locais de nosso corpo: o coração e o cérebro. Depois de passar pelos órgãos citados, o ser de grau 3 pode até dançar e bater o pezinho acompanhando a música, mas ele registrou o que está ouvindo. Este grupo identifica verticalmente o cluster sonoro oferecido e consegue extendê-lo pelo tempo da música. São pessoas exigentes e normalmente não são compreendidas pelos outros grupos. Por exemplo, detalhes difíceis de serem caracterizados podem provocar-lhes violenta ojeriza. Muitas vezes, a pessoa de grau 3 não sabe porque detesta determinada música. Ele apenas detesta e protesta contra ela, fato que parece uma excentricidade incompreensível às pessoas de grau 1 ou 2. Certamente, nenhum gênero detém a hegemonia da “boa música”. E a coisa pode piorar: o pianista erudito Nélson Freire gosta de musicais americanos, o guitarrista Keith Richards (Rolling Stones) ama Brahms, Leonard Bernstein dizia que não há nada melhor que Norwegian Wood (dos Beatles), Keith Jarrett disse pretensiosamente que gostaria de ser Bach e Jimmy Page (Led Zeppelin) declarou que preferia ter nascido negro e com o sobrenome King…
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