http://walkoman.wordpress.com/
15.3.09
Você aí parado: compartilhe música!
Todo domingo, quando acordo sem ressaca, abro a janela de um dia ensolarado, vejo crianças brincando, vizinhos lavando carro, velhos lendo jornal e discutindo política com mais novos e todas as espécies de bucolismo que se pode ver num bairro prosaico como o meu. Ligo o computador e vou direto procurar no blog JazzMan o que há de mais cool no gênero e na MPB. Afinal o que pode ser mais acolhedor? Depois passo tudo para o meu aparelho de MP4 e passeio pelas ruas me sentindo o Snoopy num de seus episódios animados. Mas neste domingo, imagine só, depois de domingos e mais domingos acordando de ressaca, sinto-me tal qual acabasse de nascer e, ao ir naquele que é um dos mais completos blogs de raridades de Jazz, descubro que ele já era‼!
Sinto-me usurpada. Ou melhor dizendo, desiludida e com muito medo. Mistura de sentimentos bem característica de quem perde a ingenuidade. Ocorre com este blog e outros de música, pelo que li e em escala menor, a mesma coisa do que naquela história de Ray Bradbury, Fahrenheit 451. Para quem não sabe, este romance fala de um futuro em que todos os livros são proibidos e queimados quando encontrados. Para se manter tal estado, opiniões próprias são suprimidas dos cidadãos e a originalidade é considerada um crime. Embora, na época, o autor tenha criado esta história para criticar a alienação televisiva (segundo ele mesmo declarou) e uma América do Norte hedonista, acho que podemos pensá-lo nos dias de hoje como uma metáfora da forma como o sistema cada vez mais procura concentrar o saber e manipulá-lo como uma forma de poder.
Nunca se escutou tanta música, nunca houve tantos especialistas, nunca houve tantos blogs com tantas resenhas sobre todo tipo e gênero de músicas! E o que é sensacional: nunca antes os músicos estiveram tão livres para divulgar seus trabalhos. Os shows tomaram novos sabores, cada vez mais freqüentes, mais macro e moleculares ao mesmo tempo… Nunca se exigiu tanta criatividade dos artistas e o resultado é simplesmente maravilhoso. Posso ser fã de um grupo de polca da Malásia. Posso criar uma música e fazê-la virar um hit sem nem mesmo precisar mendigar na porta de uma gravadora… Outro dia estava andando na rua e a cada dez pessoas, mais ou menos umas seis tinham um fone de ouvido. Me deliciei em imaginar os tipos tão variados de músicas que elas ouviam.
Mas tudo, tudo isso que assisto da arquibancada com um sabor doce na boca, hoje me pareceu ameaçado por forças sectárias de um tempo em que nosso prazer de se apreciar a cultura ficava à mercê de poucos, chegando até nós muito pouco da potencialidade artística do momento, que, aliás, era coberta por intenções escusas. Verdade, tanto o livro quanto a música de vidro não podem se queimar. Mas se deformam a temperaturas muito altas. Fiquemos de olho nas arbitrariedades e protestemos. Minha parte faço aqui e encerro TODAS as minhas atividades no blogger. Com tempo encerrarei no wordpress também, porque eu sei que ele também está na onda do boicote, e criarei um espaço próprio. Por agora, enquanto não aprendo a resistir só encerro a do blogger. E sugiro a cada um que passar por aqui que aprenda a disponibilizar arquivos de música e os coloquem cada vez mais e mais até que as gravadoras possam entender que seu tempo já passou, que o mundo mudou e que elas que arrumem uma maneira mais HONESTA de ganhar os seus milhões.
Manifesto do JazzMan (antes tarde do que nunca, divulgue!)
Sinto-me usurpada. Ou melhor dizendo, desiludida e com muito medo. Mistura de sentimentos bem característica de quem perde a ingenuidade. Ocorre com este blog e outros de música, pelo que li e em escala menor, a mesma coisa do que naquela história de Ray Bradbury, Fahrenheit 451. Para quem não sabe, este romance fala de um futuro em que todos os livros são proibidos e queimados quando encontrados. Para se manter tal estado, opiniões próprias são suprimidas dos cidadãos e a originalidade é considerada um crime. Embora, na época, o autor tenha criado esta história para criticar a alienação televisiva (segundo ele mesmo declarou) e uma América do Norte hedonista, acho que podemos pensá-lo nos dias de hoje como uma metáfora da forma como o sistema cada vez mais procura concentrar o saber e manipulá-lo como uma forma de poder.
Nunca se escutou tanta música, nunca houve tantos especialistas, nunca houve tantos blogs com tantas resenhas sobre todo tipo e gênero de músicas! E o que é sensacional: nunca antes os músicos estiveram tão livres para divulgar seus trabalhos. Os shows tomaram novos sabores, cada vez mais freqüentes, mais macro e moleculares ao mesmo tempo… Nunca se exigiu tanta criatividade dos artistas e o resultado é simplesmente maravilhoso. Posso ser fã de um grupo de polca da Malásia. Posso criar uma música e fazê-la virar um hit sem nem mesmo precisar mendigar na porta de uma gravadora… Outro dia estava andando na rua e a cada dez pessoas, mais ou menos umas seis tinham um fone de ouvido. Me deliciei em imaginar os tipos tão variados de músicas que elas ouviam.
Mas tudo, tudo isso que assisto da arquibancada com um sabor doce na boca, hoje me pareceu ameaçado por forças sectárias de um tempo em que nosso prazer de se apreciar a cultura ficava à mercê de poucos, chegando até nós muito pouco da potencialidade artística do momento, que, aliás, era coberta por intenções escusas. Verdade, tanto o livro quanto a música de vidro não podem se queimar. Mas se deformam a temperaturas muito altas. Fiquemos de olho nas arbitrariedades e protestemos. Minha parte faço aqui e encerro TODAS as minhas atividades no blogger. Com tempo encerrarei no wordpress também, porque eu sei que ele também está na onda do boicote, e criarei um espaço próprio. Por agora, enquanto não aprendo a resistir só encerro a do blogger. E sugiro a cada um que passar por aqui que aprenda a disponibilizar arquivos de música e os coloquem cada vez mais e mais até que as gravadoras possam entender que seu tempo já passou, que o mundo mudou e que elas que arrumem uma maneira mais HONESTA de ganhar os seus milhões.
Manifesto do JazzMan (antes tarde do que nunca, divulgue!)
Já estamos juntos há quase dois anos, compartilhando e divulgando cultura, conhecimento e boa música. Muitas coisas boas aconteceram. Além dos diversos amigos que fiz e dos colaboradores que me ajudaram a manter o blog, tive a oportunidade de cobrir os festivais de Rio das Ostras (RJ) e Ouro Preto (MG), e de entrevistar artistas de renome como Mauro Senise, Hamilton de Holanda, Dudu Lima, Ithamara Koorax, dentre outros. Neste período, o blog se tornou uma referência em jazz na Internet brasileira.
Infelizmente, o blog JazzMan! está ameaçado. Com a nova política do Google de deletar todos os audioblogs hospedados no Blogger, nosso site pode acabar a qualquer momento. Existem algumas pessoas que têm um pé para trás e outro lá no buraco e não conseguem enxergar a importância e a proposta do nosso trabalho. Eu nunca ganhei dinheiro com o blog, muito pelo contrário: muitas vezes deixei de ir a festas, tomar minha cerveja, ficar com minha namorada, de dormir ou de ver o jogo do Mengão só para poder trabalhar aqui. Mas faço isso com muito prazer pois, modéstia à parte, acho que o benefício que estou levando para milhares de pessoas é bem maior do que tudo isso.
Desde pequeno, minha mãe sempre falava: "Filho, estou lhe dando este boneco, mas ele não é só seu. Empreste para seus amigos também". O que ela queria dizer com isso? Pode parecer uma coisa simples, mas foi uma das primeiras lições de compartilhamento e solidariedade que tive na vida. Fui crescendo e troquei os brinquedos por uma coleção de CDs e vinis, que aos poucos foi aumentando com muito incentivo de meus pais, valorizadores e amantes da boa música. Aqui em casa, os estilos musicais sempre foram muito diversificados: quem vier nos visitar pode se deparar com um álbum de Edith Piaf e, logo em seguida, ouvir um falsete de Milton Nascimento. Lembro-me que minha mãe, no tempo em que era professora, sempre trabalhava música com as crianças, sobretudo as canções de Tom Jobim e Luiz Gonzaga, com as quais eu ficava profundamente comovido.
Todas essas vivências acabaram desenvolvendo em mim um sentimento muito forte pela música. Não enxergo simplesmente como música, naquela concepção do senso comum, mas como uma ferramenta de integração e de expressão que podemos utilizar para mudar a vida das pessoas.
Tive a idéia de fazer o blog JazzMan! quando me deparei com tantos vinis, CDs e filmes simplesmente restritos à minha casa. Dentro de um lar que sempre respirou música, onde as pessoas freqüentavam para buscar mais conhecimento musical, reparei que deveria ir além com isso. De que adianta ter milhares de títulos musicais e cinematográficos e dividir apenas com um grupo restrito de pessoas? Tomei para mim a missão de continuar o trabalho dos meus pais e, para isso, nada melhor que a blogosfera, onde poderia alcançar um maior número de pessoas e conhecer gente com a mesma ideologia.
Este trabalho não pode acabar. Por isso venho até aqui pedir a ajuda de todos vocês. O blog precisa ser migrado para outro servidor de hospedagem o mais rápido possível, antes que o Google o retire do ar, assim como fez com o Som Barato e o Abracadabra. Uma das primeiras resoluções que tomei foi migrar provisóriamente todas as postagens de CDs para o serviço Word Express, como forma de backup dos links. Criei outro blog, para onde exportarei todas as entrevistas, artigos e notícias e que será futuramente a página do Jazzmanbrasil.com. Mas preciso de ajuda para hospedar os links de CDs. Quem tiver idéias, sugestões ou até o interesse e a generosidade de contribuir com alguma quantia para futuros gastos com o servidor de hospedagem, por favor, utilize os comentários ou envie um e-mail para jazzman@jazzmanbrasil.com. A minha idéia é hospedar os links em um servidor estrangeiro, de preferência de algum país mais remoto, para evitar eventuais problemas. Quem tiver conhecimento em Internet e hospedagem de modo geral, entre em contato, pois estamos precisando muito.
28.2.09
Para quem quer encontrar vida dentro do corpo.
Comece despretensiosamente com Return to Hot Chicken. Escute o baixo de James McNew na canção Moby Octopad e, ao fechar os olhos, verá que eles percorrem a imagem distorcida de uma janela de trem. Seja este ou não um bom dia, em Sugarcube não se deixe levar pela voz doce e a bateria vulgar, a guitarra de Ira Kaplan (ou seria de Dave Schamm?) pode espremer sangue de sua doçura. E se seu coração estiver partido, Damage escorrerá por suas mãos. A cada faixa você irá cada vez mais fundo em si mesmo, é o que avisa Deeper into movies ao cavar sensações a cada acorde. A voz doce de Georgia Hubley em Shadows te colocará no colo de suas sombras. E, neste momento, já será tarde demais. Mesmo livre para ir onde quiser, estará com Stockolm Syndrome. Bongôs entrarão no seu Autumn Sweater e você sentira o suor de quem luta com todos os sentimentos. E tudo jamais tem uma uniformidade entediante porque neste momento Little Honda aumenta seu ritmo vertiginosamente. Mas não exploda, não ainda! Tente se acalmar com o coral de grilos unidos à guitarra que só falta falar em Green Arrow até toda mágica recomeçar com a voz cansada de Kaplan. Pronto, você está sobre a magia do betume novamente com The Lie and How We Told it, onde o Yo La Tengo, com uma batida bossa nova, tentará mostrar onde está o Center of Gravity. Depois de escutar Spec Bebop, vai duvidar quando eles falam We’re na American Band. Porque quando eles colocam você no My Little Corner of the World, é como se seu quarto fosse o único país no mundo todo.
I can Hear the Heart Beating as One!
Você quer escutar também? Clique aqui(arquivo torrents).
9.2.09
Comédia del art do rock
Descontrolei todo meu sono este fim de semana. Já não bastasse acordar todo dia meio dia me tornando uma pessoa suspeita e perdendo algumas oportunidades. As idéias vieram todas, este foi o caso. Eu deveria estar comemorando, mas elas vieram em parábolas intuídas. Não conseguia organizá-las e foi imperativo me deixar levar por músicas. O dia chegava e eu dizia a mim mesma: só mais um bônus track. Resolvi não fazer disso um complexo e dei intensa liberdade pro sono; na hora que viesse, eu dormiria. Também não culpei o café, este jorro escuro que faz brilhar todo meu organismo. O resultado foi altamente prolífero, quase gastei um caderno inteiro com o pouco que pude extrair da tempestade. Redescobri o ato de escrever com as mãos e rascunhar. Nos intervalos, entrei em êxtase com Clapton. Layla and other assorted love songs é a melhor versão de todos os tempos de estar apaixonado pela namoradinha de uma amigo meu. Puta merda! Eu tive vontade de gritar. Imaginei-o terminando sua obra catarsiado e intuindo secretamente que depois daquele o golpe de misericórdia seria dado: Pattie Boyd seria dele. Meu príncipe! Encontrei-me totalmente apaixonada, embora ame o dragão da história, George Harrison. Talvez seja porque sou uma Colombina, mais pra Arlequina, vai saber. Dolores Duran passou por aqui e me disse que a solidão ia acabar com ela. Se eu pudesse voltar no tempo, a salvaria com Eric.
Para quem não sabe, este disco de 1970 foi feito quando Clapton amargava uma dor de cotovelo daquelas depois de se apaixonar pela mulher do melhor amigo, o então George Harrison. Pattie Boyd, que estava com o beatle desde a época do iêiêiê depois de ser promovida de groupie a esposa, não foi a culpada pelo fim de uma das amizades mais fecundas da história da música. A coadjuvante foi a musa de um dos melhores discos da história da música.
Torrents para o disco aqui
8.2.09
Profecia de Irará
“... pensar é uma coisa desaforada”.TZ
Depois de morder, agora quero assoprar. E para tanto escolho Tom Zé. Chamá-lo de profeta seria um exagero, ou mesmo até um clichê, mas rendo-me a esta palavra porque não encontro outra similar para descrever sua posição, em 1999, numa entrevista a revista Caros Amigos.
O que desespera é que são todos contra Feagacê, todos odeiam, mas, na hora de agir, fazem a mesma coisa que Feagacê faz. Isso é triste, que diabo de coisa fizemos para receber um castigo desses, imitar Feagacê? Procedemos assim porque não temos em disponibilidade outra estrutura de pensamento, estamos falidos de utopia e depauperados de filosofia, somos na verdade governados pela USP e por um professor chamado Fernando, que dirigiu o departamento de filosofia e agora usa o nome artístico de Feagacê.
Mas antes de ser profeta ele é um apaixonado, na verdade:
Os Sertões foi o livro que me tornou analfabeto. (...) Pedro Taques disse, endossado pelo próprio Euclides, que os nordestinos são na verdade os primeiros bandeirantes e, porque ficaram insulados naquela região, sem comunicação, acabaram se tornando paulistas que mais puros se conservaram. Quer dizer, nós somos a fina flor da paulicéia (...). O sertanejo é diferente, e é esse tipo de analfabeto que eu sou e que Os Sertões me mostrou que era o que eu devia continuar a ser. O sertanejo tem que falar cultura, dançar cultura, cantar cultura, fazer pentimento dos conhecimentos esotéricos da paisagem das caatingas, num constante esforço para não perder a cultura dos seus avós, que ele ama mas não tem como registrar. Essa cultura é muito diferente da nossa, é um processo de estruturação lógica que não conhece Descartes e Aristóteles e que não está fundado na palavra escrita.
Bem, ali estava eu, assustado com o livro que se referia diretamente a uma coisa que eu conhecia, intuía, mas não tinha capacidade de descrever em palavras, eu duvidava: ‘meu Deus, será possível?’ E, quando você não tem a palavra para intermediar sentimento e o corpo, você fica com os nervos nus, expostos a uma espécie de febre... Bem, nós chamamos isso de emoção.
Na verdade, o que a cabeça mais fecunda da nossa música faz é botar em movimento a força do imprevisível das artes a partir unicamente dos poderes da memória, de linguagens crioulas e outras miscelâneas típicas da cultura brasileira. Escutar suas músicas sempre equivale a ser seqüestrado pelo imaginário utópico das nossas coletividades que tanto negligenciamos. Com ele conseguimos nos nomear, criamos vozes e percebemos o que mais em baixo eu chamei de polipolariadade, para diagnosticar o delírio fecundo que é a tal de MPB.
Se você não conhece e deseja ver como ele funde suas idéias harmonicamente à música, leia isto e depois escute.
7.2.09
Go-go bizarrices
Quem costuma dar uma checada nas minhas playlists já deve ter notado a constante presença de uma moça chamada Nancy Sinatra. Sim, não é por acaso este sobrenome, ela é mesmo a filha do grande Frank. Também ela não é um grande achado. Sua carreira apenas não teve mesma expressão que a do pai.
Dona de um hit só, lançado na metade dos anos 60, These Boots Are Made for Walkin se tornou um hino do movimento feminista. Através dele a mocinha pela primeira vez pôde exibir sua sensualidade sem perder o charme virginal, característica do que viria a ser o go-go boots, um clássico dos sixties. Em 1968, ela atuou com Elvis Presley no filme Speedway, mas foi outro filme que ressucitou sua carreira. Graças ao faro apuradíssimo de Quentin Tarantino para o kitsh, nossa geração teve acesso à belíssima Bang Bang, que está na trilha sonora de Kill Bill.
Eu preferi dar uma de Tarantino e baixar alguns CD's seus pela net. O garimpo não foi fácil, tive até que voltar à boa e velha mula. E para minha surpresa fui muito feliz. A parceria de Nancy com Lee Hazlewood, que escreveu, produziu e cantou com ela muitas de suas músicas, é uma das melhores coisas para filas de banco. Apesar d’eu achar que vez ou outra eles pesam a mão no country, a bizarra, misteriosa e inesperada Some Velvet Morning já está na lista das minhas 100 músicas preferidas.
Se quiser garimpar também, clique aqui.
4.2.09
Playlist para putas tristes
“(…) a força invencível que impulsionou o mundo não foram os amores felizes e sim os contrariados. Quando meus gostos musicais entraram em crise me descobri atrasado e velho, e abri meu coração às delícias do acaso”. Gabriel Garcia Márquez
1. Cinco Minutos – Jorge Ben
2. Celos - Gotan Project
3. Rocks with Holes – Kimya Dawson
4. Death of Clown – The Kinks
5. Don’t let him waste your time – Nancy Sinatra
6. Loin des villes – Yann Tiersen
7. Heart of glass – Nouvelle Vague
8. Golden Years – David Bowie
9. Drama Universal – Zé Ketti
10. Moanin' Low – Billie Holiday
28.1.09
Panela serve é pra bater
Foi em 1966 que a revista inTerValo, especializada em TV, soltou a bombástica manchete: “Erasmo Carlos denuncia panelinha da Bossa Nova”. Na época, na crista da onda, recusando três convites para participar de espetáculo por falta de tempo, o Tremendão não tinha papas na língua. Afirmou categoricamente que o samba bom não tinha jazz e nascia no meio do povo. Tamanha revolta vinha do fato de que, apesar de ser um “estouro” de vendas, os críticos ignoravam Erasmo. E os cantores e “disc jockeys” (yes, era época deles), geralmente adeptos da Bossa Nova não o diferiam dentro do grupo da Jovem Guarda, tidos como “debilóides” e “sub-músicos”.
Na entrevista concedida à revista, o Tremendão profetizava que a Bossa ia acabar se continuasse esnobe e afastada do povo. E muito sensato foi pré-tropicalista ao questionar: “Como é que têm coragem de nos acusar de cantar versões e músicas estrangeiras, se eles enfileiram o jazz na sua musiquinha nacional?”. Para Erasmo o pedestal da Bossa Nova não existia e citava como exemplo Jorge Ben: “entrou pra nossa turma com armas e bagagens e ganhou uma popularidade nunca vista. Chegou a chorar em Belo Horizonte, quando um auditório de dez mil pessoas começou a cantar em coro o Ninguém Chora Mais. Bossa Nova faz isto? Bossa Nova tem essa intimidade com o público? Era um auditório da Jovem Guarda, morou?”
É bem verdade que o Tremendão deixou escapar um certo reacionarismo aqui ao defender um samba puro. No entanto, estamos impedidos de ser categóricos quanto a isso, já que ele defende a dita impura Jovem Guarda. Está evidente aqui seu discurso típico do mal estar dualista da mentalidade do artista brasileiro. Apesar de menos explícito, o músico no nosso país continua como na época do iê iê iê (embora de forma mais disfarçada), condenado a oscilar entre o local e o universal, o seu e o outro, o moderno e o arcaico e etc.
O que Erasmo Carlos não via é que a Bossa Nova inaugurou uma linguagem inventiva que quebrou antigos chavões parnasianos na música brasileira. Sim, reuniu o sofisticado Jazz americano à simplicidade de rimas pobres que traduziam o cotidiano das cidades, principalmente a carioca. Este lirismo não impediu as canções de protesto que desvelaram para o Brasil o potencial criativo das periferias. E no meio disso tudo, a entorpecida Tropicália desbravou caminho com golpes de cores, desbancando definitivamente a linearidade tradicional da construção musical. A Jovem Guarda persistiu incessantemente ora em releituras discretas, ora de formas mais escancaradas no decorrer do tempo. A Bossa Nova desceu do pedestal invisível denunciado por Erasmo ao ser cantada por Roberto Carlos e Caetano Veloso – o que prova que tal pedestal era realmente invisível. Vimos Chico Science e sua Nação Zumbi levar ao extremo os delírios bi-tri-polipolares da música brasileira. Tom Zé continua experimentando como uma criança que descobre o mundo… Enfim, é essa a nossa cultura musical.
O problema é que apesar deste potencial todo e de sua história, que destrói todo o equívoco do conceito de “novo” e sua banalidade, a dita MPB é hoje a coisa mais chata da qual se tem notícia. E o motivo é evidente: a negação de sua afinação caótica e alegre. Salvo alguns raros artistas, mesmo aqueles que se diluem no multiculturalismo em voga, acabam em sua maioria ou caindo na neurótica bipolaridade do século passado expressa pelo Tremendão, ou transformando seus experimentos potentes em receitas insossas que se adaptam facilmente em trilhas sonoras de novelas e repertórios de cantoras de churrascaria. Exemplo? Los Hermanos e premiados nos tais Grammys tupiniquins.
Ouça de um tanto disto aqui
Na entrevista concedida à revista, o Tremendão profetizava que a Bossa ia acabar se continuasse esnobe e afastada do povo. E muito sensato foi pré-tropicalista ao questionar: “Como é que têm coragem de nos acusar de cantar versões e músicas estrangeiras, se eles enfileiram o jazz na sua musiquinha nacional?”. Para Erasmo o pedestal da Bossa Nova não existia e citava como exemplo Jorge Ben: “entrou pra nossa turma com armas e bagagens e ganhou uma popularidade nunca vista. Chegou a chorar em Belo Horizonte, quando um auditório de dez mil pessoas começou a cantar em coro o Ninguém Chora Mais. Bossa Nova faz isto? Bossa Nova tem essa intimidade com o público? Era um auditório da Jovem Guarda, morou?”
(Clique na imagem e veja a entrevista na íntegra)
É bem verdade que o Tremendão deixou escapar um certo reacionarismo aqui ao defender um samba puro. No entanto, estamos impedidos de ser categóricos quanto a isso, já que ele defende a dita impura Jovem Guarda. Está evidente aqui seu discurso típico do mal estar dualista da mentalidade do artista brasileiro. Apesar de menos explícito, o músico no nosso país continua como na época do iê iê iê (embora de forma mais disfarçada), condenado a oscilar entre o local e o universal, o seu e o outro, o moderno e o arcaico e etc.
O que Erasmo Carlos não via é que a Bossa Nova inaugurou uma linguagem inventiva que quebrou antigos chavões parnasianos na música brasileira. Sim, reuniu o sofisticado Jazz americano à simplicidade de rimas pobres que traduziam o cotidiano das cidades, principalmente a carioca. Este lirismo não impediu as canções de protesto que desvelaram para o Brasil o potencial criativo das periferias. E no meio disso tudo, a entorpecida Tropicália desbravou caminho com golpes de cores, desbancando definitivamente a linearidade tradicional da construção musical. A Jovem Guarda persistiu incessantemente ora em releituras discretas, ora de formas mais escancaradas no decorrer do tempo. A Bossa Nova desceu do pedestal invisível denunciado por Erasmo ao ser cantada por Roberto Carlos e Caetano Veloso – o que prova que tal pedestal era realmente invisível. Vimos Chico Science e sua Nação Zumbi levar ao extremo os delírios bi-tri-polipolares da música brasileira. Tom Zé continua experimentando como uma criança que descobre o mundo… Enfim, é essa a nossa cultura musical.
O problema é que apesar deste potencial todo e de sua história, que destrói todo o equívoco do conceito de “novo” e sua banalidade, a dita MPB é hoje a coisa mais chata da qual se tem notícia. E o motivo é evidente: a negação de sua afinação caótica e alegre. Salvo alguns raros artistas, mesmo aqueles que se diluem no multiculturalismo em voga, acabam em sua maioria ou caindo na neurótica bipolaridade do século passado expressa pelo Tremendão, ou transformando seus experimentos potentes em receitas insossas que se adaptam facilmente em trilhas sonoras de novelas e repertórios de cantoras de churrascaria. Exemplo? Los Hermanos e premiados nos tais Grammys tupiniquins.
Ouça de um tanto disto aqui
25.12.08
Roleta: apostas no mesmo número de cor diferente
Não quis comentar aqui o disco do Camelo porque achei tão… tão… Bom, é isso que me causa coisas sem gosto. Mas sobre o Litlle Joy de Rodrigo Amarante tenho um pouco mais. Aliás, tenho questões: serão Fabrizio Moretti e Amarante surfistas querendo se dar bem na nova onda folk que invadiu o país? (segundo padrões emetevianos). Talvez não, afinal a turnê começou nos Estados Unidos… Bom, não sei, nem quero saber, sou apenas uma ouvinte e caí de quatro por uma faixa: “dont watch me dance”. Ponto. O resto ainda estou avaliando, porque amor nem sempre é à primeira vista. Por mais estranho que pareça, não foi à primeira vista meu caso com Chico Science. Mas sugiro a experimentação. Não dói uma versão acústica do The Strokes misturado com certos clichês hermânicos. Aliás, sugere um reflexão filosófica: o encontro entre os dois integrantes não teria sido tão fortuito. O casamento é tão harmônico que é surpreendente o quanto as duas bandas tem a ver. Tirando alguns instrumentos e noves fora parece uma coisa só, diferente, mas igual, bem misturinha. Interessante…
Cito ainda Mary Poppins, para quem “basta um pouco de açúcar que pão e água vira chá com bolinho”, com a finalidade de sublinhar a pessoa lindamente inexpressiva da namorada de Moretti, Binki Shapiro.
Façam suas apostas! Torrem e quem quiser poderá ainda conferir ao vivo (embora eu não acredito que eles sejam aquele tipo de banda pra se ver mais do que pra ouvir).
27/01 - Porto Alegre (Bar Opinião)
28/01 - São Paulo (Clash Club)
30/01 - Belo Horizonte (Festival Freegels)
06/01 - Rio de Janeiro (Circo Voador)
21.12.08
Jingle Bells
1. Rockin’ around the Christmas tree – Beatles
2. Have yourself a merry little Christmas – Coldplay
3. In the hot sun of a Christmas day – Caetano Veloso
4. Punk rock Christmas – Sex Pistols
5. Someday of Christmas – Jackson Five
6. Christmas day – Dido
7. Sex baby Christmas mine – Morphine
8. Wonderful Christmas Time – Paul McCartney
9. Christmas wrapping – The Waitresses
10. Jingle Bell Rock – Bobby Helms
16.12.08
10 versões de Fever que você tem que escutar antes de morrer
1. Little Willie John*
2. Elvis Presley
3. The Cramps
4. The Kingsmen
5. Peggy Lee
6. Ella Fitzgerald
7. Madonna
8. Sarah Vaughan
9. Sharon Cash
10. Marie “Queenie” Lyons
*Original, primeira gravação em 1956
Fever
Never know how much I love you
Never know how much I care
When you put your arms around me
I get a fever that's so hard to bear
You give me fever when you kiss me
Fever when you hold me tight
Fever in the morning
Fever all through the night.
Ev'rybody's got the fever
that is something you all know
Fever isn't such a new thing
Fever started long ago
Sun lights up the daytime
Moon lights up the night
I light up when you call my name
And you know I'm gonna treat you right
You give me fever when you kiss me
Fever when you hold me tight
Fever in the morning
Fever all through the night
Romeo loved Juliet
Juliet she felt the same
When he put his arms around her
He said 'Julie, baby, you're my flame
Thou giv-est fever when we kisseth
Fever with the flaming youth
Fever I'm afire
Fever yea I burn for sooth'
Captain Smith and Pocahantas
Had a very mad affair
When her daddy tried to kill him
She said 'Daddy, o, don't you dare
He gives me fever with his kisses
Fever when he holds me tight
Fever, I'm his misses,
Oh daddy, won't you treat him right'
Now you've listened to my story
Here's the point that I have made
Cats were born to give chicks fever
Be it Fahrenheit or centigrade
They give you fever when you kiss them
Fever if you live and learn
Fever till you sizzle
What a lovely way to burn
What a lovely way to burn
What a lovely way to burn
2. Elvis Presley
3. The Cramps
4. The Kingsmen
5. Peggy Lee
6. Ella Fitzgerald
7. Madonna
8. Sarah Vaughan
9. Sharon Cash
10. Marie “Queenie” Lyons
*Original, primeira gravação em 1956
Fever
Never know how much I love you
Never know how much I care
When you put your arms around me
I get a fever that's so hard to bear
You give me fever when you kiss me
Fever when you hold me tight
Fever in the morning
Fever all through the night.
Ev'rybody's got the fever
that is something you all know
Fever isn't such a new thing
Fever started long ago
Sun lights up the daytime
Moon lights up the night
I light up when you call my name
And you know I'm gonna treat you right
You give me fever when you kiss me
Fever when you hold me tight
Fever in the morning
Fever all through the night
Romeo loved Juliet
Juliet she felt the same
When he put his arms around her
He said 'Julie, baby, you're my flame
Thou giv-est fever when we kisseth
Fever with the flaming youth
Fever I'm afire
Fever yea I burn for sooth'
Captain Smith and Pocahantas
Had a very mad affair
When her daddy tried to kill him
She said 'Daddy, o, don't you dare
He gives me fever with his kisses
Fever when he holds me tight
Fever, I'm his misses,
Oh daddy, won't you treat him right'
Now you've listened to my story
Here's the point that I have made
Cats were born to give chicks fever
Be it Fahrenheit or centigrade
They give you fever when you kiss them
Fever if you live and learn
Fever till you sizzle
What a lovely way to burn
What a lovely way to burn
What a lovely way to burn
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