27.5.08
Diagnóstico musical: esquizofrenia melódica?
“Que tipo de som você escuta?” É o que uma pessoa interessante te pergunta quando quer saber o que há por trás dos seus “belos olhos azuis”. Ela quer sacar o seu a+ e saber se haverá uma segunda vez. Se for uma pessoa desinteressante, do tipo que tem medo de “se jogar” ou do tipo que está disposta a pré-julgamentos ignorando qualquer surpresa, ela perguntará o seu signo. Mas se ela falar em “signo solar” e perguntar o dia ou a hora que você nasceu, bom, então ela é astróloga mesmo, do tipo tarada pelo assunto… E se ela te dizer coisas totalmente inesperadas e que despertem um certo prazer em você, pois bem: ela é o amor da sua vida.
Mas fiquemos com os encontros eventuais, digo, pessoas simplesmente interessantes… Sempre me dou mal em responder essa pergunta, porque gosto de tanta coisa que pareço não ter muita personalidade. No meu Mp4, por exemplo, você encontra de Zé Kéti a Velvet Underground, de Edith Piaf a Moraes Moreira. Ou de Lester Young a Roberto Carlos (60’s e 70’s, óbvio). Me orgulho desta flexibilidade pop porque acho que é característico do meu jeito divertido de ver a vida. Amo coisas estranhas e que me fazem rir. E também fico fascinada por qualquer música que me leve aos mistérios mais íntimos da personalidade daquele que a executa. E a minha droga atual: tenho imenso prazer em observar as pequenas crônicas que se passam nas calçadas enquanto escuto outras de outros mundos e ritmadas dentro da minha cabeça, me dividindo, assim, em duas bandas desconexas. Então, resolvi fazer um diagnóstico musical de mim mesma. E aí, quando uma pessoa me perguntar “Que tipo de som você escuta?”, me ache apenas uma maluca. Que é bem melhor impressão do que “sem personalidade”.
Usei o seguinte diagnóstico. Peguei a minha playlist atual do Mp4 – a qual dediquei dois dias inteiros montando, peguei tudo que eu tinha de cd e coisas baixadas e selecionei as músicas que eu mais gostava de verdade. Depois usei um método mais pragmático, observei qual cantor, cantora ou banda (e etc), tinham mais músicas. Considerando que um artista (ou grupo de) que ultrapassa a margem de quatro discos bem sucedidos é sempre muito foda. Os primeiros lugares foram ocupados por eles. Depois considerei grupos, tipo gêneros, levando-se em consideração que ainda há muito que conhecer. Chega de explicar, vê se me entende.
1. Em primeiríssimo lugar, com 41 músicas imprescindíveis, revelando-me um ser mais óbvio do que eu poderia imaginar, Chico Buarque de Holanda. Sem contar mais músicas dele interpretadas por outros que entraram em outras pastas.
2. Na verdade, o segundo lugar me revela bem coerente, pois forma com o primeiro a dupla que me marcou a adolescência e se renova sempre em mim. Estou falando de Caetano Veloso, que tem apenas 27 músicas na minha playlist por pura incompetência de baixar sua discografia completa. Eu sei, Caetano fala muita merda. Mas estou falando de genialidade e não de comportamento.
3. Em terceiro lugar, o clássico do século XX: Beatles com 35 canções imprescindíveis, que poderiam ser 45, mas faltam alguns álbuns na minha “antologia”. (*)
4. Quebrando um pouco mais o ritmo da lista, vem o Pixies com 31 canções imprescindíveis. Tirei Where’s my mind e Here Comes Your Man porque me deram no saco, então poderia ser até 33 canções imprescindíveis.
5. Raspando no quarto lugar e empatando com The Smiths com 30 canções sem as quais eu não poderia viver vem Mutantes. Até agora acho que sou um tipo musical entre Tropicália e anos 80’s.
6. Com 28 pauleiras que eu amo está a dupla White Stripes. Não tô querendo modernizar, não. Há uma coerência pra isso também. Jack é uma enciclopédia do rock e Meg é apreciadora nata de MPB. Diz a lenda que, quando veio ao Brasil foi fuçar sebos em busca de vinis da Elis Regina. Eu não saco nada de música, não tenho ouvido pra técnica musical mas devo captar alguma coisa familiar neles, sei lá.
7. Depois vem Velvet Underground com 25 músicas. O que não significa que os Stripes são melhores, mas que o rock hoje em dia usa menos droga e sobrevive mais, faz mais discos. Lembrem-se, este diagnóstico é quantitativo e por isso há pequenas falhas.
8. Em oitavo lugar vem a senhorita Billie Holiday. Não posso precisar o número de canções cantadas por ela que fazem parte da minha playlist. Varia Sunny Holiday e Rainy Holiday, tenho uma discografia vasta. Uma mesma canção em várias versões, coisas deste tipo. Sei que pelo menos tem sempre umas 20 canções dela para onde quer que eu vá.
9. Eu poderia incluir na categoria gêneros a música francesa. Mas é algo tão novo na minha vida, não tem história. Bem mais significante e até quantitativo é o quesito samba. São mais ou menos 64 sambinhas prediletos sob batuta de Paulinho da Viola, Tereza Cristina, Velhas Guradas (mais um monte). Esse número aumentaria para muito mais se eu não tivesse criado a décima categoria…
10. …que é a categoria época de ouro da MPB: são mais ou menos 100 clássicos distribuídos entre Noel, Adoniram, Ari Barroso, Cartola, Caymi, Pixinguinha, Ataulfo, Nelson Cavaquinho, Dolores Duram, Geraldo Pereira, Zé Kéti, Wilson Batista, Assis Valente, Herivelton Martins, Monsueto, Luis Gonzaga e etc. Uma moçada com uma vida de dar inveja a qualquer porra-louca do rock. Embora outros nem tanto, o fato é que são em sua maioria injustiçados pela falta de memória nacional e uma pesquisa mais detalhada e particular de alguns destes seria por si só uma missão antropológica tamanha riqueza de suas obras. Por isso, por minha falta de conhecimento, resolvi englobá-los num grupo, pois vivo me surpreendendo vez ou outra com uma descoberta dessa época e os carrego sempre passear também.
Então, acho que um gatinho não vá me achar tão interessante. Eu mesma me achei bem óbvia e nada esquizofrênica musical. Acredito que este diagnóstico define meu tipo de gosto musical. Nada muito requintado, mas típico de quem ouve música com o coração. No mais, se quiser jogar 171, é só falar que gosto dos detalhes do meu MP4 e ser um tanto pedante. Mas na verdade, meu gosto musical tem sua especificidade aí em cima, como acabei de definir. A esquizofrenia entra mesmo na minha forma de escutar música.
(*) Não bateria o Chico porque, como eu disse, tem coisas dele espalhadas por todo lado. Como, por exemplo, a música “Atrás da porta” que é dele e a Elis Regina roubou com maestria.
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Um comentário:
Muito bom o texto... vou usar o teu metodo e descobrir se sou esquizofrenico. U2, Rush, Destruction, Nei Lisboa... quem sabe?
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